13.1.06

Porque é que os portugueses gostam do Cavaco

Não é preciso pensar muito nisso. Vejamos: o Sr. Silva não sabe comer um bolo rei com maneiras, não sabe quantos cantos têm os Lusíadas e comporta-se sempre como um parolo das couves convidado para casa do rei quando anda "lá fora", pelo largo mundo, tem sempre aquele ar do menino bem comportado da aldeia no seu fatinho domingueiro, é só ver a profusão de fotografias com os grandes do mundo que o homenzinho pôs na sua auto-biografia, volume dois (tem aliás uma foto ainda mais gira de duas págunas, que ele mais a sua Maria, de mãos dadas, ela com o largo sorriso de moçoila de aldeia e ele com a inexpressividade de cara de pau do costume em frente à pirâmide de Queops). Por isso é que ele era o bom aluno da Europa, porque essencialmente fazia tudo o que lhe mandavam os que eram mais que ele, os que eram mais espertos mais fortes mais belos que o triste do portuguesinho.

Claro que a nível nacional o pobre portuguesinho tornava-se imediatamente num déspota da pior espécie, com uma incapacidade incrível de ouvir quem quer que fosse, e que, dizendo que detestava a máquina partidária, lá a ia deixando engordar e engordar (ainda me lembro dos meninos da JSD me tentarem convencer a pertencer àquela aberração indecente explicando-me as coisas que eu podia ganhar de graça por lá andar) e encheu o partido de bajuladores e tecnocratas bisonhos, pois eram o único tipo de pessoas que se coadunavam com o "estilo" governativo dele (talvez por isso que desde o Cavaco que os líderes do PSD têm sido uma absoluta desgraça atrás de outra, desde o estriónico Marcelo, ao inefável Santana, passando pelo tíbio cherne).

No fundo, vamos a ver, o Cavaco é tão somente o típico patrão português que eu vejo de vez em quando nos aeroportos e aeronaves da Tap Air Portugal, vestido com grandes fatos, muito cinzentos, caros e ultrapassados, que fala de baixo para cima, cheio de salamaleques, para os seus colegas estrangeiros (esses deuses) e muito de cima para baixo para os nacionais (esses montinhos de merda), ao passo que estoira dinheiro em qualquer disparate que ache que lhe permite mostrar "nível". E a verdade é que os portugueses gostam disto, porque são também eles assim, provincianos, subservientes e déspotas. Veja-se por exemplo o quanto Portugal quer ser conhecido no mundo pela sua "hospitalidade", que muitas vezes não é nada mais do que pura e simples subserviência da mais rasteira que há. Os portugueses gostam de ser feitos gato-sapato, de andar a toque de caixa, de ter pais tiranos, pelo simples facto que não há nada que detestem mais do que ser responsáveis pela própria vida. Ou alguém toma a responsabilidade por eles, ou eles assumem a responsabilidade pela vida de outros.

É isso afinal que tanto o Sebastianismo, como o Salazarismo, como o Cavaquismo são, mais e antes que tudo: provincianismo, subserviência e despotismo.

E agora, deixem-me lá ver como anda a bolsa...