9.12.05

Perguntas retóricas

Miguel Sousa Tavares, hoje, no PÚBLICO:

Por que é que a Holanda e a Bélgica, bem mais prósperos que Portugal, organizaram em conjunto o Euro 2000 e apenas precisaram de sete estádios, dos quais dois novos, e nós, organizando sozinhos, precisámos de dez estádios, dos quais oito novos? Por que é que, em vez do grande Alqueva, gigante adormecido e majestático, não se fizeram antes uma série de médias e pequenas barragens que cobrissem todo o Alentejo e Algarve e retivessem toda a água que inutilmente escorre para o mar? Por que é que Málaga tem um aeroporto que actualmente movimenta o mesmo número de passageiros que a Portela mas que cresce o dobro desta anualmente, com apenas uma pista contra as duas da Portela e ocupando 320 hectares contra os 520 da Portela, e só espera rever as suas condições no ano 2020? Por que é que nenhum país do Norte da Europa, e países tão extensos e tão ricos como a Suécia, a Noruega, a Finlândia, sentiu até hoje a necessidade imperiosa de se dotar de um TGV?

Parece que o problema do MST é que nunca percebeu a essência de ser português, que é viver a maior parte do tempo a achar-se um miserável e um coitadinho mas, de quando em vez, decidir que só se vive uma vez e que uma vez não são vezes e desgraçar-se e estoirar dinheiro sem fim numa maluquice qualquer: o arquétipo do gajo que tem um Ferrari e ao almoço e ao jantar come pão com manteiga. O português, essa criatura inefável, gosta de grandes desígnios nacionais e de elefantes brancos. E parece-me que é só de bom tom que os nossos governos sejam reflexo dessa nossa identidade nacional.
Ou porventura pensam que se mudássemos este comportamento continuaríamos a ser portugueses?