Os Lusiadas Revisited
O Bom:
É sobretudo na perfeição da forma e no poder da descrição inspirada e evocativa que Camões prima:
-A Proposição é poderosíssima, só Homero consegue melhor em termos de efeito dramático com a entrada fulgurante da Ilíada. A Invocação, que se lhe segue, também é muito bonita e inspirada. A Dedicatória é talvez um pouco longa...
-Dois episódios: Vénus suplicante a Júpiter e a morte de Inês de Castro, onde Camões usa ao máximo os seus fantásticos dotes de poeta lírico e de mulherengo profissional.
-O Adamastor é uma criação à altura da mitologia grega, o que não é dizer pouco, sublimemente descrita.
-Algumas descrições muito belas (eg: no conselho dos deuses, no conselho dos deuses marinhos, na ilha dos amores).
O Mau:
Em geral a narração é muito inferior à descrição e os personagens são incaracterísticos, planos, feitos de papelão.
Ora vejamos:
-As batalhas são todas esboçadas a traço grosso, sem qualquer detalhe ou evolução. Na verdade, são mais descritas que narradas.
-A gesta dos reis portugueses é uma litania infindável e aborrecida de nomes e referências, quase parece uma daquelas homepages que tudo o que tem é links para outras páginas.
-O Baco d'Os Lusíadas é dos maus da fita mais desenxabidos que alguma vez vi.
O que eu noto sobretudo é a falta de tensão dramática. Isto deve-se sobretudo a dois factores:
-muito pouca acção;
-falta densidade psicológica aos personagens, o que leva o leitor a ter pouca inclinação para sentir qualquer emoção em relação a eles.
Na Ilíada, quando Heitor se prepara para defrontar Aquiles, o leitor sente uma imensa compaixão por ele e o peso trágico de um destino inelutável e injusto, porque o conhece enquanto homem corajoso e nobre, abnegado protector da sua nação e família, pai e marido e filho extremoso.
N'Os Lusíadas não só não há qualquer cena com esta carga emocional intensa, e tal seria impossível de criar com os personagens que tem: se Vasco da Gama morresse, ou o Magriço, ou o Nun'Alves, era virar a página e continuar a ler, sem pensar nisso duas vezes.
É sobretudo na perfeição da forma e no poder da descrição inspirada e evocativa que Camões prima:
-A Proposição é poderosíssima, só Homero consegue melhor em termos de efeito dramático com a entrada fulgurante da Ilíada. A Invocação, que se lhe segue, também é muito bonita e inspirada. A Dedicatória é talvez um pouco longa...
-Dois episódios: Vénus suplicante a Júpiter e a morte de Inês de Castro, onde Camões usa ao máximo os seus fantásticos dotes de poeta lírico e de mulherengo profissional.
-O Adamastor é uma criação à altura da mitologia grega, o que não é dizer pouco, sublimemente descrita.
-Algumas descrições muito belas (eg: no conselho dos deuses, no conselho dos deuses marinhos, na ilha dos amores).
O Mau:
Em geral a narração é muito inferior à descrição e os personagens são incaracterísticos, planos, feitos de papelão.
Ora vejamos:
-As batalhas são todas esboçadas a traço grosso, sem qualquer detalhe ou evolução. Na verdade, são mais descritas que narradas.
-A gesta dos reis portugueses é uma litania infindável e aborrecida de nomes e referências, quase parece uma daquelas homepages que tudo o que tem é links para outras páginas.
-O Baco d'Os Lusíadas é dos maus da fita mais desenxabidos que alguma vez vi.
O que eu noto sobretudo é a falta de tensão dramática. Isto deve-se sobretudo a dois factores:
-muito pouca acção;
-falta densidade psicológica aos personagens, o que leva o leitor a ter pouca inclinação para sentir qualquer emoção em relação a eles.
Na Ilíada, quando Heitor se prepara para defrontar Aquiles, o leitor sente uma imensa compaixão por ele e o peso trágico de um destino inelutável e injusto, porque o conhece enquanto homem corajoso e nobre, abnegado protector da sua nação e família, pai e marido e filho extremoso.
N'Os Lusíadas não só não há qualquer cena com esta carga emocional intensa, e tal seria impossível de criar com os personagens que tem: se Vasco da Gama morresse, ou o Magriço, ou o Nun'Alves, era virar a página e continuar a ler, sem pensar nisso duas vezes.
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