9.11.05

Escrito há uns tempos valentes

Portugal:

Tenho sempre na lembrança o fedor da tua trança. É uma maneira diferente de ver as coisas. Uns são patriotas e românticos. Outros são pessimistas e desencantados. Eu prefiro ser simplesmente parvo.

Tenho sempre na lembrança o fedor da tua trança. É a forma de saudade de um verdadeiro parvo. Estar longe e lembrar as gentes estúpidas e feias ou lembrar as gentes afáveis e bem dispostas, lembrar os lugares sujos e decadentes ou lembrar as paisagens idílicas e ensolaradas, lembrar as misérias e safardanices ou lembrar os namoros e brincadeiras. Querer estar aí e aceitar o todo pelo todo, não pretender mudar nada, amar com o que há, que é o que há para ser amado, e prontos! Para o raio com as reformas de tudo e de nada, para o raio com as revoluções e os desenvolvimentos, para o raio com os critérios de convergência. Isto é amor do verdadeiro.

Amor de amante cego, não amor cego de mãe, que não é afinal tão cego assim, ou não estivessem as mães sempre a queixarem-se-nos das roupas, dos penteadas, das namoradas, do estilo de vida, da preguiça, do desamor que por elas teremos.

Os políticos fingem-se mães e são afinal gigolos. Os fazedores de opinião são tias solteiras. Os poetas pensam-se amantes sofredores ou felizes e não são mais do que mentirosos narcisistas que apenas amam ser amados.

Eu sou parvo. Incrivelmente parvo. E por isso estou aqui entre os mais civilizados que nós, os mais desenvolvidos que nós, os mais inteligentes que nós e os mais ricos que nós e acho-os mais chatos que nós e mais desinteressantes que nós. A culpa não é deles. É minha, que sou parvo e sou cego, sou amante obsessivo e irracional.

Tenho sempre na lembrança o fedor da tua trança. Beijinhos e até à vista.